quinta-feira, 2 de junho de 2011

Crise deve forçar Dilma a fazer mudanças no governo

O Palácio do Planalto vem sendo alvo de ameaças e chantagens. Para apaziguar a situação, Dilma poderá aumentar o poder do PMDB e trocar articulação política


A derrota na votação do novo Código Florestal na Câmara dos Deputados e o recente escândalo envolvendo o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci (PT), têm colocado em xeque o até então governo conciliador da presidente Dilma Rousseff (PT). O clima de tranquilidade que aparentemente reinava em Brasília veio abaixo logo no início da nova gestão petista. Fato que, segundo especialistas ouvidos pelo O POVO, obrigará a petista a executar mudanças urgentes no governo e no próprio modo como sua articulação política no Congresso vem sendo conduzida.

Desde a última semana, o Palácio do Planalto sofre ameaças tanto de partidos da oposição quanto de aliados. A oposição ao governo federal chegou a aprovar, ontem, por um cochilo dos governistas, a convocação de Palocci à Comissão de Agricultura da Câmara, para explicar o aumento, em pelo menos 20 vezes, do próprio patrimônio, entre os anos de 2006 e 2010.

Com tanta euforia no Planalto e provas claras de falta de controle sobre sua base aliada, uma das primeiras medidas da presidente foi almoçar, ontem, com senadores do PMDB. Atitude considerada “coerente” pelo cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer.

Para ele, há indícios de que ela dará um papel maior ao PMDB no governo, na tentativa de driblar a crise. O professor explica também que Dilma deverá ter outro articulador político no lugar de Palocci. “Pode ser o Paulo Bernardo (PT-SP), que já foi ministro do Planejamento e é um ministro experiente”, aponta Fleischer. “A gente deve lembrar que no primeiro governo do (ex-presidente) Fernando Henrique (PSDB) o articulador era o Sérgio Mota, que era ministro das Comunicações. O articulador não necessariamente deve ser da Casa Civil”, diz.

Outro ponto que confirma a crise enfrentada pelo governo foi a determinação da presidente de suspender a produção e distribuição do kit anti-homofobia nas escolas públicas, mediante chantagem da bancada religiosa na Câmara, liderada pelo deputado Anthony Garotinho (PR-RJ). O grupo chegou a ameaçar o governo de colaborar com assinaturas para convocar Palocci a se explicar na Câmara e a propor uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o Ministério da Educação (MEC).

Além disso, uma semana depois de pressionar o governo e conseguir suspender o kit, Garotinho voltou a ameaçar o Palácio do Planalto. Dessa vez, disse que poderia endossar a criação de uma CPI contra Palocci caso a Câmara não vote a PEC 300, que cria o piso salarial para policiais civis e militares, alegando que o momento político é propício à pressão.

Crise exige respostas
Apesar de considerar que a crise atual não se compara ao escândalo do Mensalão, esquema de compra de votos de parlamentares no governo Lula, o professor de Ciência Política da Universidade de Fortaleza (Unifor), Francisco Moreira, acredita que a situação é grave para o governo.

De acordo com ele, a maneira como o governo sairá desse processo é que vai mostrar o fortalecimento ou a fragilidade da presidente. “De uma hora para outra a oposição, que não tinha discurso e nem projeto, tem uma denúncia dessas nas mãos. Ela (Dilma) tem que tomar uma providência”, alerta Moreira.

O certo, para ele, é que um partido que se diz “dos trabalhadores”, tente esclarecer logo os fatos. “O que não pode acontecer é que isso sirva de moeda de troca entre Congresso e governo. Afasta o Palocci até esclarecer os fatos”, sugere o professor.

Por quê

ENTENDA A NOTÍCIA

A presidente Dilma Rousseff vem se encontrando com partidos da base aliada para tentar contornar a crise que se instalou no governo, desde quando o ministro Antonio Palocci foi denunciado de enriquecimento ilícito


Ranne Almeida
ranne@opovo.com.br 

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