sábado, 2 de abril de 2011

Para filósofo, ''direita parece ter sido 100% suprimida''

O também jornalista Olavo de Carvalho avalia que a direita que existe hoje no Brasil é fisiologista e incapaz de impedir o crescimento da esquerda

Sustentada sob quatro pilares - defesa da moral cristã tradicional, liberdade de mercado, educação clássica e ordem jurídica constitucional – a direita brasileira “parece ter sido 100% suprimida”. Isso é o que pensa o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, que, além de jornalista, é assumidamente um “direitista conservador”.

“A noção de direita desapareceu da política brasileira e dos debates. O que temos hoje é uma direita fisiológica, pessoas que não são moralmente contra o comunismo e socialismo. Estão defendendo apenas interesses próprios e, às vezes chegam a servir até a esquerda, quando acham que lhes convém, como aconteceu com Fernando Collor Mello e Paulo Maluf”, lamenta o filósofo, autor de O imbecil coletivo: atualidades inculturais brasileiras, no qual critica o meio cultural e intelectual brasileiro. Foi esse livro que o tornou nacionalmente conhecido.

Collor (PTB) foi presidente do Brasil de 1990 a 1992, quando teve de renunciar por conta de um pedido de Impeachment aberto por suspeitas de corrupção em governo. Hoje é senador pelo estado de Alagoas. Já Paulo Maluf foi governador de São Paulo e prefeito da Capital Paulista. Atualmente exerce mandato de deputado federal também por São Paulo e vez por outra tem o nome envolvido em escândalos.

Olavo de Carvalho explica ainda que a direita brasileira foi forte sobretudo nos anos 40, após a derrubada da ditadura de Getúlio Vargas, com a formação da União Democrática Nacional (UDN), que culminou na eleição de Jânio Quadros, em 1960. Para Carvalho, a direita ideológica foi demolida durante o regime militar, quando somente técnicos e militares governavam. “Os políticos foram reduzidos à condição de moleques de recados e se tornaram medíocres”, explica o filósofo.

A esquerda cresce
Admirador de “líderes genuínos de direita” como Carlos Lacerda, Milton Campos, João Camilo de Oliveira Torres e Adauto Lúcio Cardoso, Carvalho destaca que a esquerda ganhou espaço no cenário político pós-redemocratização brasileira em função de a própria direita não ter se articulado no período.

“No Brasil, a ideia da esquerda não encontra resistência. O pessoal da direita é muito acomodado, omisso, covarde. Os esquerdistas não, eles agem. A direita não pode dizer que foi derrubada pelo PT, porque ela nem sequer lutou. Entregou os pontos. Ela agiu de maneira indecente, traindo seus eleitores”, admite. Hoje, o PT encontra-se em seu terceiro mandato consecutivo na Presidência da República, enquanto partidos ditos de direita, como o DEM, definham.

Além disso, segundo ele, a ditadura combateu a esquerda armada, mas permitiu que a desarmada ocupasse as universidades, a mídia e as instituições de cultura, o que acabou possibilitando uma ascensão dos esquerdistas no País.

Outra tática utilizada pela esquerda que vem viabilizando o “crescimento desenfreado” da corrente no Brasil é a “maneira diversificada” como ela atua. “Existem várias camadas de esquerda, mas todas agem para alcançar o mesmo objetivo, a tomada do poder”, lembra.

O Foro de São Paulo, criado desde 1990 pelo ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo ex-ditador cubano Fidel Castro, realiza, conforme Carvalho, reuniões constantes entre partidos de esquerda e está “conquistando país por país da América Latina, com o objetivo de torná-la numa espécie de União das Repúblicas Socialistas da América Latina, restaurando neste continente o que o comunismo perdeu no Leste Europeu”. (Ranne Almeida - rannealmeida@opovo.com.br)

Por quê

ENTENDA A NOTÍCIA

Desde a primeira eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2003, as práticas políticas tanto dos partidos ditos de esquerda como de direita colocaram em xeque o real papel das ideologias na condução do País.

MAIS SOBRE A DIREITA NO BRASIL

A marca “liberal” (nome de um grande partido da era imperial e que costuma-se vincular à ideia de direita) ressurgiu em 1984, quando dissidentes do regime militar decidiram apoiar a candidatura de Tancredo Neves (PMDB) à Presidência.

O uso desse nome visava dissociar o grupo da ditadura militar e realçar sua adesão aos valores liberais (defesa da liberdade individual e crítica à ingerência do Estado).
Essa escolha foi reforçada pelas vitórias de políticos neoliberais no Reino Unido (Thatcher) e EUA (Reagan). 

Em 1985, a Frente Liberal se transformou em partido. No mesmo ano, Alvaro Valle, outro dissidente da ditadura, fundou o Partido Liberal. No ano seguinte, os “liberais” elegeram 124 deputados federais, contra 57 dos partidos de orientação “trabalhista”.

A partir de 1990, os governos Collor (1990-1992), Itamar (1992-1994) e FHC (1995-2002) adotaram medidas liberalizantes, privatizando estatais e desregulamentando as relações trabalhistas. No plano da “práxis política”, porém, a história teve curso mais complicado. Os resultados eleitorais dos “liberais” no Parlamento se revelaram piores que os dos “trabalhistas”.

Fonte: http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2011/04/02/noticiapoliticajornal,2120944/para-filosofo-direita-parece-ter-sido-100-suprimida.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário